quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Vales da Uva Goethe e a Festa da Vindima: onde ficar, o que ver e fazer

Quando a produção de uva e vinho finca raízes em uma região, outros negócios começam a se desenvolver em volta dele. A atividade toma impulso porque quem gosta de vinhos quer conhecer de perto quem e como se produz, e aí começa a procura por onde comer, onde dormir e o que fazer, aproveitando fins de semana prolongados, feriados ou férias.




Urussanga sempre teve seus atrativos de cidade pequena e desde 2011, quando a região obteve a Indicação de Procedência, vem buscando o aprimoramento da produção e a melhoria da infra estrutura para se abrir e receber novos visitantes.  
A grande atração da região ainda são as pequenas vinícolas, seus vinhos e as celebrações, como a Festa da Vindima todos os anos, a Festa do Vinho e do Ritorno Alle Origine, que acontecem alternadamente uma vez por ano. Mas tem muito mais. 





Eu gosto sempre de caminhar quando chego pela primeira vez a uma cidade. É uma forma de reconhecer o novo território, conhecer como as pessoas vivem e se comportam, e observar detalhes  com mais atenção, como da arquitetura. Urussanga é uma cidade legal para fazer isso. É quase toda plana, tranquila e segura. Sua arquitetura é ainda mais horizontal, a especulação imobiliária ainda não chegou com seus arranha-céus envidraçados. Há ainda muitas casas centenárias preservadas, algumas fechadas, outras restauradas que se transformaram em negócios.
Também ainda estão em pé dois prédios históricos das duas primeiras vinícolas erguidas na cidade no início do século XX, a Caruso e a Cadorin, que foram muito produtivas no passado, mas que hoje infelizmente só restaram paredes e memórias. 

Vinícola Caruso




Vinícola Cadorin



                              


Urussanga não tem shopping, mas tem uma praça, a Anita Garibaldi, linda e arborizada, que é ponto de encontro, de descanso na sombra generosa das árvores e onde acontecem algumas de suas festas. Do seu lado direito tem a padaria central, onde dá para sentar, papear e tomar um café com sonho, grostoli ou rocambole recheado com geléia de uva. Delícias locais. 
Olhando para frente e para cima está a imponente igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição. Igreja bonita, bem conservada, patrimônio tombado  com mais de 110 anos e 4 sinos, trazidos da Itália, que tocam religiosamente de hora em hora e nas datas festivas e solenes. 
Eu que sou xereta acabei pedindo para ir lá no topo da torre ver de perto os 4 sinos, a cidade e a praça de cima, literalmente coberta pelas árvores.







               


E é dentro da igreja que está uma relíquia e um orgulho para a população, a única réplica fiel da Pietá de Michelangelo fora da Itália, presente do Papa Paulo VI para Urussanga. Com certeza por se tratar de uma cidade irmã da comuna italiana de Longarone, no Vêneto, e que preserva tão bem a cultura deste povo.  




Parada para o almoço, normalmente em restaurantes com serviço de bufett, com comida bem caseira e ao estilo italiano. Não falta polenta, frango e massas.
O movimento em torno do vinho fez nascer também uma gastronomia mais elaborada e uma nova oferta de restaurantes e bares, com mais vida noturna também. É o caso do Noci, que se instalou em uma casa centenária restaurada. O chef Antonio e sua esposa Karine são de Urussanga, mas viveram muitos anos em Londres, onde o Antonio fez sua formação em gastronomia. Retornaram recentemente para a cidade e abriram o restaurante com a proposta de trabalhar ingredientes locais, de preferência orgânicos, e preparados com a técnica e o primor de uma gastronomia mais elaborada. 

Restaurante Noci




Outro entre os novos é o Del Fuego, um restaurante dedicado a carnes preparadas na brasa e com oferta de 20 tipos diferentes entre bovina, suína, frango e ovelha. 
O que eu gosto muito e aproveito todos os dias, sempre que estou por lá, é poder encontrar o vinho local nos restaurantes, pedir uma taça de vinho Goethe na hora do almoço. Sinto falta dessa oferta maior de vinho em taça no Brasil, seja do nacional ou do importado. O vinho Goethe, por sua versatilidade e bom preço, é uma ótima opção. 





A cidade e suas vias de ligação com as vizinhas inspira os que gostam de atividade ao ar livre, bike, corrida ou caminhada. Há muitas áreas planas para estas práticas, mas também subidas para quem busca mais desafios. 
Aliás, Santa Catarina é um estado que estimula muito estas atividades, em muitas regiões se vê uma prática intensa do ciclismo, como no Vale Europeu.
Uma das atividades bem legais para se fazer ao ar livre é o vôo de balão, que sobrevoa a cidade e permite ter toda uma outra dimensão do lugar. Deu até para ver um vinhedo de Goethe bem no meio da cidade. 
A empresa I Fly Baloon organizou vários destes vôos durante a Festa da Vindima, mas que podem ser feitos durante o ano também com agendamento. 






                      






Toda essa intensa atividade pede um bom descanso a noite e tem dois lugares que eu sempre me hospedo quando vou a Urussanga e que eu recomendo. 
A Pousada Vale dos Figos, onde fiquei desta vez, fica as uns 10 minutinhos de carro do centro da cidade. Tem todo o conforto que a gente procura, ar condicionado para o calor, lareira para o frio e para vinho, e wifi para quem não consegue se desconectar. Só que a Vale dos Figos convida a gente a desligar o celular e botar o nariz e os pés para fora do quarto para se conectar com toda a natureza exuberante a sua volta, pois está incrustada em uma área de preservação ambiental. O Rio Maior passa ao lado da propriedade, presenteando os hóspedes com quedas d’água e piscinas naturais para dar um mergulho. É um paraíso!
Pela manhã vale a pena acordar com tempo para curtir o café da manhã, preparado no capricho, e também para um bom papo com a família, super acolhedora, que administra a pousada e está sempre por lá.



                      




Na Pousada Dona Alice, administrada pela querida e carismática Teresinha Possenti, a gente se sente em casa. Na verdade é uma grande casa, impecavelmente cuidada e limpa, e onde todos são recebidos com alegria e abraços pela própria Teresinha, como se fossem da família. 
E como uma família, todos se sentam juntos na grande mesa da sala de jantar para tomar o café da manhã. Muita gente vem a trabalho para a região e a noite chega cansado para ir jantar fora. Então a Teresinha tem sempre a mão uma meia dúzia de cardápios para pedir comida. Aí mais uma vez se senta a mesa para comer na boa companhia dela e ouvir suas histórias, como dos programas que faz todos os domingos na rádio local para falar de cultura e música italiana. Ela inclusive canta no coral da cidade. 



           

Para quem gosta de imersão total no vinho, a vinícola Vigna Mazon oferece, além da visitação com degustação dos vinhos, acomodações de uma pequena pousada. Tem também um restaurante, onde se pode fazer eventos e casamentos. 
Ainda não me hospedei por lá, mas já tive o prazer de almoçar e colher uns cachos de uva com a Patricia Mazon. Como toda boa família italiana, são ótimos anfitriões e fazem vinhos deliciosos.


                         

                          


Para quem pode esticar a viagem, Urussanga está a meio caminho entre o litoral e a Serra Catarinense, por onde se chega pela incrível estrada da Serra do Rio do Rastro, a 55 km da cidade. 
Mas estas são outras histórias!



terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Vales da Uva Goethe, Festa da Vindima e boa comida


Pouca gente sabe que no sul de Santa Catarina está uma das 6 Indicações de Procedência de vinhos do Brasil, a dos Vales da Uva Goethe. A pequena região, encravada entre o litoral e o início das elevações da Serra, a 55km da Serra do Rio do Rastro, abrange os municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Treze de Maio, Nova Veneza, Içara e Orleans.
Ouso fazer um paralelo com a região dos Vinhos Verdes, ao norte de Portugal, por uma semelhança entre vinhos brancos que são perfumados, frescos e com a deliciosa "agulha", e também por regiões que produzem vinhos com características únicas no mundo. 




Hoje o vinho Goethe é sem dúvida raro, único e típico. 
Raro porque hoje, como uma produção comercial mais organizada e com Indicação de Procedência, só existe no Brasil, especificamente nesta região. 
A variedade Goethe é única. Suas notas de frutas cítricas e brancas, floral e mel, combinadas a mineralidade, característica tanto da variedade como do local onde ela está implantada, dão uma tipicidade toda peculiar aos vinhos. Alguns inclusive trazem um interessante e agradável toque salino ao paladar.
A mineralidade destes vinhos é uma combinação de um alto teor de sais dos ácidos orgânicos da uva, da mineralidade presente no solo da região e da influência das correntes frias das Malvinas sobre o litoral do estado. 
O sucesso da Goethe na região foi uma combinação de fatores muito particular.  Sem dúvida a boa adaptação as condições de solo e clima do lugar foi fundamental, porém o saber fazer dos imigrantes italianos, já instalados por lá, e a afinidade que os vinhos tiveram com o paladar selaram definitivamente o destino do vinho Goethe na região. 
Os imigrantes finalmente se sentiram em casa!




Para quem gosta de vinhos, visitar uma região produtora pode proporcionar muito mais experiências do que apenas colher e pisar uvas, e provar vinhos. Há muita história, cultura e lazer que se desenvolve em torno do vinho. 
Entre os dias 17 e 20 de janeiro eu estive lá em Urussanga para a sua 11a Festa da Vindima e foi incrível ver o que esta pequena e agradável cidade pode oferecer aos visitantes durante a festa.
Pra começar, nada melhor do que falar de um dos maiores parceiros do vinho, a comida. Sem dúvida alguma, um dos povos que mais cultua e aprecia esse casamento são os italianos. Mais do que hábito alimentar, comida e vinho fazem parte da cultura do povo italiano. É modo de vida, do viver em família, entre amigos e na sociedade. E não há refeição ou festa para os italianos sem que haja mesa farte e taças cheias.




Imagina então quando chega esta época da colheita, a cidade fica em festa! A comida sai do ambiente das casas e dos restaurantes para ganhar a praça central, lugar de encontro da população local e dos visitantes. 
É o caso da polenta, receita original do norte da Itália, que os vênetos e friulanos trouxeram para a região de Urussanga e que nós brasileiros amamos!
A noite do sábado é o auge da festa, quando um grupo já tradicional da cidade, o Amici della Polenta, prepara o famoso tombo da polenta gigante ao som de muita música típica. A tradição começou em 2012 como uma brincadeira entre amigos, que se reuniam para preparar o prato e tomar vinho, é claro. A boa fama da polenta foi trazendo mais adeptos para o grupo e aumentando o tamanho do tacho para saciar a fome da turma. 
A fama se espalhou para fora da cidade e hoje o grupo é convidado para vários eventos em todo o estado de Santa Catarina. 




Mas nem só de polenta foi feita a 11a Festa da Vindima. Nesta edição unimos o vinho Goethe a outros alimentos em duas caprichadas harmonizações. 
Como regra geral se diz que vinhos brancos combinam com queijos, carnes brancas e peixes. Porém quando a proposta é harmonização, é preciso ir um pouco mais a fundo na questão: que tipo de queijo, com que características? Que carne, mais magra ou mais gorda, e em qual tipo de preparo? E qual vinho branco, qual estilo?
Os vinhos Goethe são bem peculiares e tem uma grande riqueza aromática, porém são delicados, então o alimento que vai ser selecionado precisa ter  características semelhantes, caso contrário no paladar pode “passar por cima” do vinho. E vice versa. 
No charmoso restaurante Noci, instalado em uma das casas centenárias da cidade, com o sol da manhã pintando o ambiente com uma luz toda especial, o chef Antonio e sua esposa Karine receberam os visitantes para uma harmonização com queijos. 





Que vinho Goethe combina perfeitamente com queijos regionais, como o Serrano, já não é novidade. A proposta foi ir além e mostrar que esbanja classe para acompanhar os sofisticados queijos franceses. 
Não muito longe dos Vales da Uva Goethe, em Paulo Lopes, a francesa Elisabeth Schober se estabeleceu em 2011 para começar a produzir queijos como na França, criando a Queijo com Sotaque. De lá selecionamos três queijos diferentes para combinar com a versatilidade de estilos do vinho Goethe.


                          


Acidez é ótima parceira para a gordura, “limpa” a boca, deixando frescor, então escolhemos queijos menos curados, mais cremosos, com sabor e notas amanteigadas e lácteas, e também de frutas secas, como castanhas. 
O amanteigado Gruyère, original da Suíça, foi escoltado pelo frescor e cremosidade das borbulhas do Terrara Espumante Brut da Vinga Mazon, elaborado pelo método tradicional.
O Abbaye de Citaux, queijo típico da Bourgogne, de massa mole com casca lavada, foi acompanhado pelo Don Valdemar da vinícola De Noni. Um dos vinhos mais minerais, com seu exótico toque salino que casou muito bem com uma nota gostosa de creme de leite do queijo.
Para o Saint Paulin, de aroma e sabor mais marcante, propomos uma experiência de harmonização por contraste, o salgado do queijo com a delicada doçura do Peccato Bianco Demi Sec da Casa del Nonno. Este vinho tem um equilíbrio incrível entre notas cítricas, doçura discreta e ótima acidez. O salgado do queijo e a doçura do vinho juntos e em igual proporção ofereceram ao paladar  uma nova e agradável sensação.


 


No tradicional restaurante Piatto d’Oro a proposta foi um jantar harmonizando carnes e vinho Goethe. O chef Charles trouxe uma proposta ousada e pouco convencional para vinhos brancos, com linguiça de frango, costelinha de porco e paleta de cordeiro. Estes dois últimos pratos foram marinados por várias horas em vinho Goethe, sal e pimenta. Esta é uma proposta bacana quando se pensa em harmonização, preparar o prato com o mesmo vinho que vai acompanhar a refeição. E deu super certo, mesmo a paleta de cordeiro, com seu sabor marcante, que foi “amansado” pelo preparo com vinho Goethe. O Azzurro da Casa del Nonno foi escolhido para este prato, um vinho elegante, que ganha mais corpo e complexidade por conta de um percentual de Chardonnay no corte com Goethe.
Como entrada foi servida a linguiça de frango acompanhada pelo Terrara Espumante Brut da Vigna Mazon, dando boas vindas a todos os participantes desta boa experiência. 
E para acompanhar a costelinha de porco, super saborosa e suculenta, o Don Valdemar da vinícola De Noni, que mandou muito bem com sua ótima acidez e exótico toque salino. 




Deu água na boca? Então já reserve janeiro de 2020 em sua agenda porque ano que vem tem mais na 12a Festa da Vindima!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Ano novo, trabalho também!

2017 começa renovado para mim!
Já faz um tempo que eu venho repensando meu trabalho, afinal lá se vão 14 anos e de tempos em tempos isso faz muito bem.
2016 foi um bom momento para refletir e me reinventar. Repensar o trabalho foi de encontro a antigos sonhos lá do início do projeto, com um meu desejo de poder oferecer os vinhos que eu gostava de beber muito antes de entendê-los, ligados aos hábitos familiares e a cultura na qual eu me criei. Eram os vinhos típicos do meu país, diferentes dos de outros, em estilo e variedades, mas que também sabiam (e sabem) ser bons.





Quando se tornou trabalho, o vinho que eu passei a tomar contato se distanciou do das minhas referências pessoais para ganhar conhecimento e dimensão mundial. Só que muitas vezes o conhecimento engessa a gente quando estabelece padrões, quando determina o que é bom e ruim, certo e errado, quando tira o vinho da mesa e de seu contexto cultural e o leva para o alto de um pedestal, fazendo acreditar que bom vinho é só de um tipo, de determinadas variedades e lugares, com um determinado padrão de gosto, e merecedor das mais altas notas da crítica. Isso não é qualidade, é padrão, o que sempre me incomodou, porque tira de quem se interessa pelo vinho a liberdade de escolher e de gostar do que se quiser gostar. Porque deixa de fora tantos bons vinhos do mundo todo que não se enquadram nele, como aquele vinho que eu aprendi a gostar, ou como o vinho que você gosta, mas deixou de tomar porque alguém criticou, menosprezou, dizendo que é ruim ou até mesmo que não era vinho (principalmente se for branco!!!). Infelizmente tem muita gente que ainda pensa assim...


Desde o início meu trabalho não se enquadrou em padrões, seguiu meu coração e abraçou o maior e mais inusitado dos desafios, que é o de divulgar e vender vinhos brasileiros para brasileiros. Consegui resistir num mercado dominado pelos importados e cheguei até aqui, ufa!!! 
2016 representou então a consolidação do meu propósito com uma volta as minhas referências para ir além. Não basta mais só tratar de vinhos feitos no Brasil, mas daqueles que representem uma genuína identidade brasileira, e isso passa longe dos padrões. 
Olhar para o passado não teve nada de saudosismo. Não significa um retrocesso. Foi  o resgate de antigas e autênticas experiências com o vinho para buscar tudo o que tem essa identidade e feito com a qualidade que todo bom vinho deve ter, seja ele qual for.

É costume dizer que esse tal bom vinho nasce no vinhedo. Verdade, e digo mais, ele nasce muito antes disso, com o entendimento e o respeito à relação entre variedade, solo e clima que dá certo, e não aquela que se insiste em criar porque é moda ou tendência mundial. 
Essa é condição fundamental para que um vinho seja bom e natural, porque forçar uma variedade para dar certo em um solo e clima que não é o mais ideal para ela vai requerer intensas intervenções e aplicações de produtos químicos para garantir a sobrevivência das plantas, além de correções na vinificação para moldar o vinho conforme o padrão que o mercado estabeleceu como bom.

Fui buscar então os vinhos que dão certo por aqui, que tem a cara do Brasil, que contam a sua história e que, muitas vezes, vão na contramão dos padrões. Vinhos que as famílias  produziam para seu próprio consumo, porque isso era parte de sua cultura, e que depois se tornou meio de vida. Hoje muitos destes vinhos são um resgate, pelas mãos das novas gerações, do que foi ficando esquecido, numa busca da identidade brasileira e de preservação da cultura regional e de suas famílias.



  

 


Este será o tom do meu trabalho a partir de agora, o tom de tudo o que é genuinamente brasileiro e bom. Então para aqueles que me perguntam se eu tenho Malbec, já sabe!!!
Vou falar de regiões onde o vinho não só dá certo, mas onde ganha identidade própria e estabelece relações estreitas com a alimentação e a cultura local. Vou tratar de variedades que vocês até já estão familiarizados, como Peverella, Riesling Itálico, Cabernet Franc, Merlot, Ancellotta ou Teroldego, mas também vão começar a ver mais Moscato, Goethe, Barbera, Sangiovese e inclusive Isabel, Bordo, Niagara e Lorena. Sim, as discriminadas uvas labruscas que fazem os vinhos de mesa no Brasil e que estão em nossas mesas para consumo in natura. Se o aroma e gosto da uva são bons para comer, por que não para beber?
Recentemente li uma sábia frase que diz que não existem variedades ruins, o que existe são produtores ruins. Grande verdade, que vale para qualquer tipo de uva e vinho do mundo todo.
Sem dúvida os vinhos das uvas de mesa são mais simples, menos complexos, tem aroma e sabor de uva mesmo, mas quando feitos com a mesma qualidade dos finos, são simplesmente deliciosos e encantadores. E o melhor de tudo é que não precisam de pompa e circunstância para serem bebidos, pode ser a qualquer hora, em qualquer lugar, no copo que quiser e do jeito que der vontade. 
É libertador!

Isabel, rainha das labruscas!

Eu não tenho a menor pretensão em equiparar os vinhos de mesa (feitos de uvas labruscas ou americanas) aos finos (feitos de uvas viníferas), pelo contrário, cada coisa no seu momento e lugar. Eu quero é celebrar a diversidade, valorizar o prazer de beber tudo o que se gosta e que tem a qualidade de ser bom e genuíno.
Quero devolver ao vinho sua simplicidade para que desça do pedestal e volte para a mesa, onde mais pessoas possam desfrutar desse prazer, não só em grandes celebrações, jantares especiais ou rodas de conhecedores, mas no dia a dia, nas refeições, no encontro com os amigos, no churrasco ou simplesmente para matar a sede e se divertir, como se faz com a cerveja.

O que eu falo, eu pratico! Esta foto é de um momento recente e muito especial com um vinho de Zeperina, variedade não vinífera e desconhecida, que eu ganhei da Lizete Vicari, produtora do Domínio Vicari, e que compartilhei com clientes e amigos queridos num almoço de final de ano. 
Vinho é isso, simples assim, bom assim.


 

Todo esse papo deu uma sede danada, então vamos lá abrir um vinho gostoso e brindar a tudo o que é brasileiro e bom!