terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Vales da Uva Goethe, Festa da Vindima e boa comida


Pouca gente sabe que no sul de Santa Catarina está uma das 6 Indicações de Procedência de vinhos do Brasil, a dos Vales da Uva Goethe. A pequena região, encravada entre o litoral e o início das elevações da Serra, a 55km da Serra do Rio do Rastro, abrange os municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Treze de Maio, Nova Veneza, Içara e Orleans.
Ouso fazer um paralelo com a região dos Vinhos Verdes, ao norte de Portugal, por uma semelhança entre vinhos brancos que são perfumados, frescos e com a deliciosa "agulha", e também por regiões que produzem vinhos com características únicas no mundo. 




Hoje o vinho Goethe é sem dúvida raro, único e típico. 
Raro porque hoje, como uma produção comercial mais organizada e com Indicação de Procedência, só existe no Brasil, especificamente nesta região. 
A variedade Goethe é única. Suas notas de frutas cítricas e brancas, floral e mel, combinadas a mineralidade, característica tanto da variedade como do local onde ela está implantada, dão uma tipicidade toda peculiar aos vinhos. Alguns inclusive trazem um interessante e agradável toque salino ao paladar.
A mineralidade destes vinhos é uma combinação de um alto teor de sais dos ácidos orgânicos da uva, da mineralidade presente no solo da região e da influência das correntes frias das Malvinas sobre o litoral do estado. 
O sucesso da Goethe na região foi uma combinação de fatores muito particular.  Sem dúvida a boa adaptação as condições de solo e clima do lugar foi fundamental, porém o saber fazer dos imigrantes italianos, já instalados por lá, e a afinidade que os vinhos tiveram com o paladar selaram definitivamente o destino do vinho Goethe na região. 
Os imigrantes finalmente se sentiram em casa!




Para quem gosta de vinhos, visitar uma região produtora pode proporcionar muito mais experiências do que apenas colher e pisar uvas, e provar vinhos. Há muita história, cultura e lazer que se desenvolve em torno do vinho. 
Entre os dias 17 e 20 de janeiro eu estive lá em Urussanga para a sua 11a Festa da Vindima e foi incrível ver o que esta pequena e agradável cidade pode oferecer aos visitantes durante a festa.
Pra começar, nada melhor do que falar de um dos maiores parceiros do vinho, a comida. Sem dúvida alguma, um dos povos que mais cultua e aprecia esse casamento são os italianos. Mais do que hábito alimentar, comida e vinho fazem parte da cultura do povo italiano. É modo de vida, do viver em família, entre amigos e na sociedade. E não há refeição ou festa para os italianos sem que haja mesa farte e taças cheias.




Imagina então quando chega esta época da colheita, a cidade fica em festa! A comida sai do ambiente das casas e dos restaurantes para ganhar a praça central, lugar de encontro da população local e dos visitantes. 
É o caso da polenta, receita original do norte da Itália, que os vênetos e friulanos trouxeram para a região de Urussanga e que nós brasileiros amamos!
A noite do sábado é o auge da festa, quando um grupo já tradicional da cidade, o Amici della Polenta, prepara o famoso tombo da polenta gigante ao som de muita música típica. A tradição começou em 2012 como uma brincadeira entre amigos, que se reuniam para preparar o prato e tomar vinho, é claro. A boa fama da polenta foi trazendo mais adeptos para o grupo e aumentando o tamanho do tacho para saciar a fome da turma. 
A fama se espalhou para fora da cidade e hoje o grupo é convidado para vários eventos em todo o estado de Santa Catarina. 




Mas nem só de polenta foi feita a 11a Festa da Vindima. Nesta edição unimos o vinho Goethe a outros alimentos em duas caprichadas harmonizações. 
Como regra geral se diz que vinhos brancos combinam com queijos, carnes brancas e peixes. Porém quando a proposta é harmonização, é preciso ir um pouco mais a fundo na questão: que tipo de queijo, com que características? Que carne, mais magra ou mais gorda, e em qual tipo de preparo? E qual vinho branco, qual estilo?
Os vinhos Goethe são bem peculiares e tem uma grande riqueza aromática, porém são delicados, então o alimento que vai ser selecionado precisa ter  características semelhantes, caso contrário no paladar pode “passar por cima” do vinho. E vice versa. 
No charmoso restaurante Noci, instalado em uma das casas centenárias da cidade, com o sol da manhã pintando o ambiente com uma luz toda especial, o chef Antonio e sua esposa Karine receberam os visitantes para uma harmonização com queijos. 





Que vinho Goethe combina perfeitamente com queijos regionais, como o Serrano, já não é novidade. A proposta foi ir além e mostrar que esbanja classe para acompanhar os sofisticados queijos franceses. 
Não muito longe dos Vales da Uva Goethe, em Paulo Lopes, a francesa Elisabeth Schober se estabeleceu em 2011 para começar a produzir queijos como na França, criando a Queijo com Sotaque. De lá selecionamos três queijos diferentes para combinar com a versatilidade de estilos do vinho Goethe.


                          


Acidez é ótima parceira para a gordura, “limpa” a boca, deixando frescor, então escolhemos queijos menos curados, mais cremosos, com sabor e notas amanteigadas e lácteas, e também de frutas secas, como castanhas. 
O amanteigado Gruyère, original da Suíça, foi escoltado pelo frescor e cremosidade das borbulhas do Terrara Espumante Brut da Vinga Mazon, elaborado pelo método tradicional.
O Abbaye de Citaux, queijo típico da Bourgogne, de massa mole com casca lavada, foi acompanhado pelo Don Valdemar da vinícola De Noni. Um dos vinhos mais minerais, com seu exótico toque salino que casou muito bem com uma nota gostosa de creme de leite do queijo.
Para o Saint Paulin, de aroma e sabor mais marcante, propomos uma experiência de harmonização por contraste, o salgado do queijo com a delicada doçura do Peccato Bianco Demi Sec da Casa del Nonno. Este vinho tem um equilíbrio incrível entre notas cítricas, doçura discreta e ótima acidez. O salgado do queijo e a doçura do vinho juntos e em igual proporção ofereceram ao paladar  uma nova e agradável sensação.


 


No tradicional restaurante Piatto d’Oro a proposta foi um jantar harmonizando carnes e vinho Goethe. O chef Charles trouxe uma proposta ousada e pouco convencional para vinhos brancos, com linguiça de frango, costelinha de porco e paleta de cordeiro. Estes dois últimos pratos foram marinados por várias horas em vinho Goethe, sal e pimenta. Esta é uma proposta bacana quando se pensa em harmonização, preparar o prato com o mesmo vinho que vai acompanhar a refeição. E deu super certo, mesmo a paleta de cordeiro, com seu sabor marcante, que foi “amansado” pelo preparo com vinho Goethe. O Azzurro da Casa del Nonno foi escolhido para este prato, um vinho elegante, que ganha mais corpo e complexidade por conta de um percentual de Chardonnay no corte com Goethe.
Como entrada foi servida a linguiça de frango acompanhada pelo Terrara Espumante Brut da Vigna Mazon, dando boas vindas a todos os participantes desta boa experiência. 
E para acompanhar a costelinha de porco, super saborosa e suculenta, o Don Valdemar da vinícola De Noni, que mandou muito bem com sua ótima acidez e exótico toque salino. 




Deu água na boca? Então já reserve janeiro de 2020 em sua agenda porque ano que vem tem mais na 12a Festa da Vindima!

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