Jantar entre artistas em Paris, um fotógrafo e um pintor. A arte também presente durante a refeição: um vinho de garagem para acompanhar a boa culinária francesa.
Para os que ainda não foram apresentados, vinhos de garagem são minúsculas produções que nasceram literalmente no fundo dos quintais, nas garagens de produtores franceses. Os vinhos ser mostraram tão bons e tão especiais que caíram no gosto de críticos e especialistas. A qualidade e raridade fizeram elevar os preços e o interesse dos apreciadores. Bem sucedido, o conceito ultrapassou as fronteiras da França para inspirar outros produtores pelo mundo afora.
É a este vinho de garagem que o ex-fotógrafo e vinhateiro brasileiro Marco Danielle deve ao amigo e pintor francês a paixão que o levou a desejar produzir no Brasil um vinho como aquele: autêntico, puro, natural.
As primeiras experimentações aconteceram nas safras de 2002 e 2003, vinhos elaborados com uvas cultivadas em sistema de latada, sem os recursos de tecnologia ou barricas de carvalho.
O que parecia estar fadado a apenas algumas garrafas para consumo próprio e da família revelou-se surpreendente. Uma matéria prima inferior, vinificada de forma cuidadosa e bem pensada para sua estrutura, produziu um vinho equilibrado em moderados teores de álcool, taninos e acidez, com agradável expressão de fruta.
Os resultados promissores motivaram a busca da uva ideal, sadia e com boa maturação para definitivamente produzir seu primeiro vinho autoral. Uma minuciosa pesquisa o fez chegar até Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul. Uma das grandes promessas da nova viticultura brasileira.
Para começar escolheu uma Cabernet Sauvignon, da boa safra de 2004, que gerou um vinho equilibrado e elegante, mais ao estilo europeu. A fase de transição de vida de Marco Danielle, pessoal e profissional, deu nome ao vinho: Tormentas, representando também um reviravolta nos padrões convencionais de produção estabelecidos no país. A ousadia era produzir um vinho com o mínimo de intervenção, sem os excessos de álcool e madeira, sem filtragens ou correções, e com baixas quantidades de conservantes, as vezes nenhum. Tudo em prol de um vinho com maior expressão da variedade e do lugar, além de ser mais saudável para o consumo.
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Em 2005, a grande safra da década no Brasil, um novo desafio: a Cabernet Sauvignon foi colhida super madura, quase passificada, gerando um vinho com maior teor de álcool e muita fruta, mais ao estilo novo mundo. A feliz decisão de adicionar 15% de Alicante Bouschet para trazer ao vinho mais acidez e frescor gerou um dos melhores vinhos já produzidos pelo Marco até hoje, o Minimus Anima.
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A este vinho, da safra 2009, deu o nome de sua filha, Fulvia, que também protagonizou o rótulo do Tormentas Premium 2007, um Merlot produzido totalmente sem conservantes.
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A proposta deste projeto não é apenas de produzir vinhos naturais, mais saudáveis para o consumo e mais expressivos, mas sobretudo provar que o Brasil tem sim potencial para gerar grandes vinhos, com vocação para um estilo mais clássico europeu em função de suas características de clima e solo. Mais frescos que a maioria dos vinhos produzidos pelo Novo Mundo em função de presença de maior acidez, porém, ao contrário do que muitos acreditam, com potencial para longa guarda.
Já se vão 10 anos e as poucas garrafas que restaram daqueles primeiros vinhos experimentais mostram que esta aposta foi acertada, eles ainda estão vivos.
Neste momento acabam de ser engarrafados os novos Fulvia: Pinot Noir 2011 e Cabernet Franc 2010. Em seus aromas e paladar se pode perceber o aprimoramento do trabalho, o refinamento dos vinhos e a autenticidade deste projeto.
Resta agora aguardar a inauguração do futuro Atelier Tormentas, que está em fase final de construção. Como em todos os vinhos e rótulos criados pelo Marco, a arte estará presente neste belo espaço para receber todos os amigos.
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