terça-feira, 30 de outubro de 2012

Vinhateiros do Brasil - Era dos Ventos


Era dos Ventos é um destes projetos surpreendentes, que nascem de tempos em tempos para nos brindar com vinhos que desafiam nossos sentidos. 
Tudo começou com a iniciativa do enólogo Álvaro Escher em resgatar uma variedade esquecida, a Peverella. Vinhos produzidos com esta uva eram muito consumidos por volta dos anos 50 e 60 pelas famílias italianas de Bento Gonçalves, como a de Álvaro.
Peverella vem de pevero, que no dialeto vêneto significa pimenta. Pequenas pintas escuras na pele da uva, que lembram pimentas pretas, e um toque tipicamente picante do vinho ao paladar deram o nome a variedade.



A verdadeira origem desta uva branca pouco conhecida não se sabe ao certo. O mais provável é que seja original de Vicenza, no Vêneto, norte da Itália. Outra suposta origem é o Tirol, entre o norte da Itália e a Áustria, de onde vieram as primeiras mudas para o Brasil em 1930, implantadas por Carlos Dreher.

Hoje a Peverella está praticamente extinta em sua origem e no Brasil restam poucos vinhedos, concentrados na região de Bento Gonçalves, com idades que variam de 50 até mais de 70 anos. 
E foi com uvas destas vinhas velhas que Álvaro produziu o primeiro vinho em 2002, numa estrebaria, onde muito do que é sagrado e puro parece nascer. Lá nasceu a Cave do Ouvidor, uma autêntica produção de garagem que fez renascer a Peverella através de vinhos surpreendentes. Seu renascimento é fruto de um extenso trabalho de pesquisa desde sua origem até esta região gaúcha, representando o resgate histórico de uma variedade que caminhava para a extinção.
Para não deixar morrer esta casta especial Álvaro se uniu então ao velho amigo do curso de enologia, parceiro de ideais, Luís Henrique Zanini, criando juntos a Era dos Ventos.




Bons ventos sopraram, safras boas e ruins se passaram e 10 anos  de muito dedicação deixam a certeza de que o trabalho valeu a pena. O pequeno patrimônio de vinhos de cores encantadoras e visual turvo refletem a filosofia que norteia o trabalho: elaborações com mínima intervenção, sem conservantes e leveduras enológicas, e sem filtragem. Pura Peverella!

Antigas prensas manuais de madeira, barricas velhas e muito coração são os recursos utilizados para revelar aromas que vão de frutas secas, toques cítricos, minerais e florais, mel e casca de laranja, a especiarias e a típica e adorável pimenta.



Em 2007 o projeto Era dos Ventos ganhou mais corpo com a chegada de Pedro Hermeto ao grupo. Proprietário do restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro, e um apaixonado por vinhos, revelou-se um vinhateiro de mão cheia, que participa ativamente de todas as etapas cruciais da produção. "O Pedro coloca literalmente sua energia no projeto. Acredito que o universo conspirou para a formação deste triunvirato!" revela o satisfeito Zanini.


Da esquerda para a direita: Álvaro Escher, Luís Henrique Zanini e Pedro Hermeto.

Neste mesmo ano o trio se propôs um novo desafio: produzir um Merlot diferente dos apresentados no mercado até então. E por que, depois de trabalhar uma uva tão diferente quanto a Peverella, optaram por uma variedade clássica? Para Zanini o que torna um vinho diferente e especial, além do potencial natural da uva,  é a forma de cultivo e o estilo desejado de vinificação. E lembra das brincadeiras do Álvaro "me traga um uva do inferno que eu te farei um grande vinho!"
Nem precisou ir tão longe! Os vinhedos deste Merlot foram plantados por Zanini em 2003 próximos a Bento Gonçalves, na região dos Caminhos de Pedra. Um lugar especial que preserva a herança cultural italiana deixada pelos primeiros imigrantes nesta região.
O que estes vinhateiros ousados conseguiram, com competência e altas doses de paixão, foi um Merlot de estrutura incrível, que reúne as características de um grande vinho: cor intensa, bonita. Aromas agradáveis e convidativos. É robusto, mas tem elegância. Álcool, acidez e taninos bem presentes, integrados e equilibrados, que apontam para a longevidade. 




Planos para o futuro? Os garotos do Era dos Ventos preferem deixar o projeto seguir seu curso, da mesma forma natural como evoluiu desde o surgimento da ideia. Deixar o vento se encarregar do destino, mas com a certeza de Zanini: "faremos vinho até morrer."
Enquanto isso vamos desfrutando de um era de bons vinhos brasileiros como estes.



2 comentários:

Lizete Vicari disse...

Que lindo post Sonia, impossível não me emocionar!!!!
Vida longa a estes tres gurís, que Deus os proteja! Dionísio já está entre eles!

Sara disse...

Que bom para sentar e apreciar um bom vinho com os amigos, mas eu acho que temos que levar em conta que tem sempre de ser acompanhado com uma boa refeição, então eu sempre tomar um vinho que eu pedir um prato em delivery jardins